É impressionante a perturbação que sinto quando não escrevo, como se houvesse uma ausência profunda ao não poder expor os turbilhões dentro de mim. No entanto, quando me disponho a escrever, a criatividade desaparece. É como se as palavras me faltassem, como se meus dedos se tornassem pesados e eu perdesse toda a energia necessária para seguir em frente.
Lembro-me de algo que escrevi quando minha família e eu enfrentávamos uma crise devido à saúde do meu pai, que já não está mais conosco. Quando revivo aqueles momentos, a memória vem em forma de céu cinza, como se, naquele ano, o verão jamais tivesse existido. Tudo era nublado, sombrio, e, em alguns momentos, chuvoso.
Agora, sinto que esse mesmo sentimento se apresenta novamente. É como se o sentido de viver e de pertencer fosse tão abstrato que me sinto incapaz de traduzi-lo ou interpretá-lo.
As dúvidas sobre o ser, sobre a existência e o sentido de simplesmente ter ar nos pulmões são perturbadoras. Até o ato de respirar me parece um desafio, como se fosse difícil encontrar propósito no simples fato de viver. Talvez seja essa fúria avassaladora chamada tempo que me perturba, arrancando de mim o desejo de me sincronizar com o incessante tic-tac do relógio.
A cada segundo que tento acompanhar, sinto uma partida frustrada. Não tenho forças para observar os ponteiros do relógio que não param, que não se cansam, pois sempre há outro a substituir o anterior, como se o tempo fosse imortal e eu, no entanto, irrelevante.
O trabalho, os relatórios e o peso da hierarquia, tudo isso parece se acumular, criando uma pressão constante. E a culpa por não conseguir ser melhor, por não conseguir cumprir com o horário, é esmagadora.
Por que é tão difícil? Às vezes, parece que 5 ou 10 minutos a mais de descanso ou adiamento acabam sendo mais satisfatórios do que simplesmente chegar no horário, como se aquele pequeno atraso fosse uma válvula de escape, um alívio momentâneo da pressão que sinto.
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