Há momentos em que me vejo perdida, como uma melodia dissonante tocada por mãos invisíveis, que não sei se moldam o que sou ou o que estou tentando ser.
Em algum lugar, entre a necessidade e o vazio, aceito o que se me oferece, como se fosse o único caminho a seguir.
A dor, então, se torna algo quase tangível, como um compromisso com o destino. Me entrego a ela, como quem se submete ao vento forte que arrasta pensamentos, levando tudo o que era. Não me firo com lâminas, mas com crenças silenciosas — aquelas que se instalam sem aviso e se tornam verdades não ditas.
É aí que me vejo fragmentada. Olho para dentro e encontro pedaços de mim mesma, espalhados e despedaçados. Cada fragmento parece uma peça perdida de um sonho que nunca se concretizou, de uma ideia que se desfez ao primeiro toque da realidade.
E então, a realidade irrompe, sem aviso, como uma luz crua que fere os olhos acostumados à penumbra do sonho. Desperto e, ao fazer isso, vejo que a ilusão, com suas cores vibrantes, dissolve-se diante de mim.
Fico com as cicatrizes — aquelas marcas que, por mais que tente, não posso esconder. Não sei se são cicatrizes ou apenas lembranças, mas são feridas abertas que o tempo não pode curar. Porque, talvez, a dor seja algo que se perpetua na repetição.
Eu continuo me ferindo, esperando por algo que nunca chega. Insisto em voltar ao mesmo ponto, sem perceber que, em algum momento, o caminho já se perdeu.
Persisto, e sei que isso é algo mais forte que a razão. Talvez seja a esperança, uma chama teimosa que se recusa a se apagar, mesmo sabendo que estou presa em um ciclo que não leva a lugar nenhum.
Cada dia é um passo mais fundo, uma queda mais forte, uma expectativa que não se concretiza. E, ainda assim, continuo.
Talvez a verdadeira lição seja aprender a me reconstruir a cada queda, a cada pedaço que se perde, e perceber que, em algum lugar, dentro de mim, a esperança nunca morreu. O amor não recíproco é, para mim, um espelho quebrado, que reflete uma imagem que nunca será completa. Ele me reflete de mil maneiras, mas nunca em sua totalidade. Mesmo quebrado, ainda sou vista, e isso, de alguma forma, me mantém.
Então sigo. Perdida, mas ainda assim cheia de uma força inexplicável. Não sei se é a dor que me alimenta ou o amor que ainda insiste em viver dentro de mim, mas sigo, porque no fundo, a ilusão é tudo o que tenho. E, talvez, tudo o que sou.
Thaísa Barbosa, Fragmentos de quem sou
17/12/2024
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